O feminismo de Margaret Atwood, Carolline Sardá e S. Ganeff

Nessas últimas semanas, o assunto mulheres e a sociedade tem sido um tópico constante na minha cabeça. O triplex foi oficialmente alugado e virou residência fixa dos meus pensamentos.

Tudo começou com a leitura do mês no clube do livro do meu trabalho: Alias Grace, ou Vulgo Grace, aqui no Brasil. Eu, que já conhecia a história porque tinha assistido a minissérie da Netflix anos atrás, me surpreendi muito com a leitura. A visão que tive dessa vez, sendo hoje uma mulher de 30, foi muito diferente da visão da jovem de 20 e poucos.

A minha pira com esse livro foi tão grande que quero escrever um post só sobre ele. Mais uma vez, Margaret Atwood faz a gente refletir sobre o ser feminino na sociedade, suas implicações e consequências, ao contar a história de Grace Marks, adolescente acusada de homicídio em 1843. Uma história baseada em fatos reais.

Ao terminar o livro, já imersa nesse tema sobre mulheres, sociedade e patriarcado, acabei me deparando no YouTube com o debate da Carolline Sardá “1 feminista vs 20 antifeministas”. Em alguns momentos, meu cérebro quase escorreu derretido pelos meus ouvidos ao ouvir certos posicionamentos, mas no geral a discussão só alimentou ainda mais meus pensamentos recentes sobre as questões debatidas.

Depois disso, o YouTube começou a me entregar vários vídeos da Carolline em debates e podcasts. E, se você nunca ouviu essa mulher falando, eu super recomendo. Ela fala muito bem, é didática, calma e sempre cheia de referências e dados. Assim comecei a ver mais e mais vídeos da Carol falando sobre feminismo, e minha cabeça literalmente borbulhando em pensamentos.

Nesse final de semana, decidi ler o novo livro da S. Ganeff, Entrelinhas, lançado agora em outubro pela Editora Labrador. Talvez alguns de vocês saibam que trabalhei na Labrador por um tempo; talvez outros estejam descobrindo isso agora. Tive a oportunidade de conhecer a Sophia pessoalmente e fiquei super curiosa com esse novo livro, sua estreia na ficção, que tem uma premissa super interessante.

Eu não tinha percebido até então o quão conectado ao tema esse livro também estava. Mulheres, dessa vez, meninas. Meninas esquecidas pela sociedade, meninas que têm suas infâncias roubadas pelo tráfico humano, quando não suas vidas por completo. E, mais uma vez, a cabeça borbulha pensando no que significa ser mulher na sociedade em que vivemos hoje, na de anos atrás e na que ainda vamos viver no futuro.

“Assustador” ainda é a palavra em comum em todas essas experiências.

Mas a intenção real desse post é levantar essa pauta. Entre muitos pensamentos, um me preocupou muito: não falamos sobre isso o suficiente. Percebi que, na minha bolha, nunca conversamos sobre esse assunto porque teoricamente está tudo bem. Mulheres brancas, classe média, solteiras ou casadas, que trabalham e votam. Aparentemente já temos tudo o que precisamos. O feminismo já fez o suficiente por nós.

Mas será que fez mesmo? E as outras mulheres? As mulheres periféricas? As meninas traficadas? As mulheres que ainda hoje são escravizadas? As mulheres que não podem trabalhar? As mulheres que são donas de casa? As mulheres trans?

Por que não estamos falando sobre elas? Por que não estamos discutindo o que ainda precisa ser feito? Por que estamos deixando a pauta apenas para as feministas da linha de frente?

A gente precisa falar sobre isso. Deixar que essas conversas esfriem é abrir caminho para retrocessos, e em um mundo ainda liderado pelo patriarcado branco, qualquer passo para trás é perigoso para todas nós. Para nós, mulheres brancas, pretas, amarelas, marrons, cis, trans, e principalmente para aquelas que estão chegando nesse mundo agora.

Conversem com suas amigas sobre o assunto.
Ouça Caroline Sardá.
Leia Margaret Atwood.
Leia S. Ganeff.

Fale sobre mulheres, fale com mulheres, fale para mulheres.


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